segunda-feira, 19 de março de 2007

Fumar a vida


Calmamente...
Muito calmamente,
Acendo um cigarro,
Inalo o fumo,
Como se inalasse a solução de todos os meu problemas,
E sinto-o percorrer me o corpo...
Acalma me, relaxa-me, mata-me...
Pouso o cigarro
Neste cinzeiro improvisado,
Por uma folha escrita,
Um poema de dor...
Que vejo misturar-se com a cinza da minha satisfação...
Olho-o queimar,
Sinto-o arder em mim,
Como se a minha vida ardesse no mesmo compasso...
Irrito-me!
Por estar a fumar novamente,
Por concordar com o suicídio acesso por um isqueiro...
Pego no cigarro, quero apagá-lo...
Mas levo-o novamente à boca,
Inconscientemente,
E inalo com satisfação o seu fumo...
Abre-se-me um sorriso nos lábios
Como se acabasse de provar o pecado original.
Quero fumar cigarro atrás de cigarro!
Fumar a minha vida, lentamente,
Ao embalo do prazer esfumaçado.
Mas continuo na dúvida,
Os problemas não se afastam,
Mas não me preocupo,
Tenho um maço cheio,
E tempo... para os fumar a todos!
Quem fuma?
Serei eu a fumar o cigarro?
Ou será ele a fumar-me a mim?
A sugar-me com calma a vida, a beleza, a vitalidade.
Não me importo...
As minhas cinzas,
misturar-se-ão com as destes cigarros,
Que eu fumei até ao fim.
Que me deram prazer,
E me acompanharam toda a vida,
Neste paciente suicídio assistido...

domingo, 18 de março de 2007

Toca pra mim


Levanta o som,
Por favor levanta o som,
Não me quero ouvir pensar...

Não me quero ouvir chorar...

Quero ouvir a guitarra que toca,
A guitarra triste que me acompanha...

Que me percebe a dor...

A guitarra que chora comigo

Que grita no mesmo compasso que o meu...
Quero ficar aqui caída...

Onde me encontraram,

A ouvir a guitarra que me consola e compreende...

Quero fugir, como as notas, fogem pra longe...

Gritar, de raiva, de amor, que já não existe,

De amor que nunca existiu,

De amor que me mata...

Não me quero ouvir...

Só quero ouvir esta guitarra que chora ao longe...

Que tocas as notas soltas de um amor corrompido,

Quero deixar de existir,

Deixar de pensar...
Deixar de sofrer... deixar de viver..
Deitar me, dormir, profundamente...
E acordar outra pessoa

Bem longe daqui, bem longe da mágoa e do rancor...
Longe das guitarras que choram o meu sofrimento...

Longe dos amores que que tudo prometem e nada dão...

Longe de mim...
Mas enquanto não adormeço,

Levanta o som,

Toca mais uma vez esse choro compassado,

Levanta o som por favor...

E deixa me chorar com esta guitarra que me consola...