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Doce boneca de porcelana,De finos traços,De bochechas ruborizadas,Que por ti tudo fez,Que por ti deu a vida,Que por ti perdeu o coração.Boneca de porcelana,Com que brincavas,Que os suaves e lisos cabelos acariciavas.Boneca que despias e vestias,Que manipulavas em teu belo prazer.Que apenas esperavaPelo teu olhar carinhoso pousado em si...Boneca dos olhos verdesQue teus passos seguia,Que ansiava a tua chegada,E que com ela voltasses a brincar.Mas a doce boneca,Tornou se amarga de tanta espera.Deixou de acreditar no teu carinho e palavras...Levantou se da prateleira a que a tinhas confinado...E partiu se,Em mil e um pedaços.Mas os cacos...?Esses?...Ela juntou os e colou osUm por um,Com a raiva que lhe deixaste.Mas de todas estas finas peçasDeste delicado puzzle de porcelana,Houve uma que ficou despedaçadaE não houve cola que juntasse...O seu delicado coração,Partiu-se...!Sem hipótese de o colar...
Por entre os escombros do meu paísE por entre as memórias de um passado recente,Nada me parece real.Encontro-me sentada,Calmamente,Num navio à beira do naufrágio.A minha juventude vai passando,Calmamente,À mesma velocidade que tudo à minha volta se afunda.Sou jovem, sou livre, pelo menos assim dizem!Pois não é assim que me sinto.Vejo-me encostada entre a espada e a parede,Presa!...Entre o passado que tenho de honrar,E o futuro, em que não posso deixar de triunfar...Um dia de cada vez...Tudo vai passando,E a minha juventude também...E tudo afunda,Em conformidade com esta nação,Em que cresci, me formo e vivo...E nem vislumbro tentativas de um salvamento,Onde andam os tão falados salvadores da pátria?Serei eu?Toda a minha geração?E ninguém tem a decência de nos avisar?Então?...Deixem me ser jovem,Deixem me salvar aquilo que foi destruído pelos velhos do Restelo!
Sinto me só...Perdida no mundo, Perdida no espaço e no tempo...Tão perto de todos, tão longe de mim.À volta uma multidão, Dentro de mim um vazio.Tento encontrar me ,Mas acabo por me perder...Ainda mais...Sempre mais...Sinto o tempo a passar por mim...Mas ele não me sente...Eu vejo o mas ele não me vê,Não me sente,Não sabe da minha existência...Será que existo?Será que isto é existir?Sim! É existir...Mas não é viver,É isso, eu existo, mas não vivo, tampouco sobrevivo...O tempo não me sente, as pessoas não me vêem,Eu não vivo...Tudo o que vejo é escuridão.Tudo não!Apenas o meu mundo é obscuro,Eu vejo os outros, eles não me vêem !O mundo deles não é igual ao meu.Não! O meu mundo é que se diferencia do deles...Eles são felizes...E eu?? Serei feliz? Não...Mas também não sou infeliz...Simplesmente não sei o que é a felicidade... Nem a infelicidade...Não sei nada...Eu não sinto, eu não vivo.O tempo continua a passar,Eu paro, mas ele não.Eu não vivo, Mas ele tem de fazer com que todos os outros vivam.Mas porquê todos os outros e eu não?Porque será que o tempo não me dá a mimA vida que dá aos outros?Ou será que ele me a dá, e eu não vejo?Não a vejo ou não a quero ver?É isso... O tempo passa...A vida corre... Tudo passa. Nada fica!A vida não pára, tal como o tempo.Fui eu que me deixei ficar para trás.Perdi me do tempo,Distanciei.me da vida...Não sei se me apetece correr, lutar, para apanhá los.Ao tempo e à vida...Não sei se vale a pena, não sei se tenho tempo,Ele fugiu...A vida fugiu com ele... Eu fiquei...Sozinha!... Perdida do mundo, perdida no espaço e no tempo...
Foste, és e serás sempre!
Das coisas mais importantes da minha vida,
Preciso de ti,Como do ar pra respirar.No dia em que te perder,
Perco me a mim também...Sinto te em mim a toda a hora,Fazes parte de mim deste sempre,
O teu sangue corre nas minhas veias,
E é com os teus olhos que tento ver o mundo!
Mas os meus olhos não são os teus,E eu, por mais que me esforce,
Nunca serei a tua pessoa,
Nunca conseguirei sequer assemelhar-me a ti,
Pois o teu carácter é incorruptível, e eu?
Pois bem...
Tu sabes aquilo que sou...Foste tu que me educaste e encaminhaste,
Mas não!Tu não falhaste!
Em mim, tu nunca falhaste!
Fui eu!Fui eu que me revoltei,
Por ser tão parecida a ti,
Quis me diferenciar,E hoje arrependo me de certos caminhos
Que percorri sem a tua mão no meu ombro,
Sem o teu olhar no meu percurso. Mas nunca é tarde.E enquanto há vida, há esperança...E eu tenho esperança,Que te voltes a orgulhar de mim,
Que me voltes a olhar com carinho,Sem mágoa pelo passado...
Por isso peço te com todo o meu coração,
Que tanto te ama...
Não desistas de mim!...
Leva-me!Por favor, leva-me para longe,Bem longe deste quotidiano tributável e repetitivo,Leva-me para onde possa viver ao meu jeito,Sem taxas, sem prestar satisfações,A quem quer que seja.Leva-me para onde eu seja quem eu quiser,Onde seja livre de sonhar,E transpor o sonho para a realidade,Onde eu viva sem medo de que cada batimento do meu coração,Cada inspiração de ar possa ser a última...Leva-me!Para onde as árvores se pintam de dourado,E o céu de laranja quando sol se esconde por detrás do horizonte!Transporta-me para onde a beleza seja indiferente,E todos os rostos sorriem quando um dia novo nasce!Leva-me contigo,Para onde os corpos unidos comungam de prazer mútuo,Onde o pecado não existe,E o sexo é a comunhão de dois corpos insatisfeitosEm busca de prazer e satisfação total...Leva-me, por favor!Pega em mim, rouba-me deste marasmo diário,E leva-me pra esse mundo,Onde tudo deixa de existir,Até as verdades mais irrefutavéis.Onde sou feliz, por momentos...Leva-me, como já me levaste!Leva-me novamente,Para os teus braços, para a tua cama,Para debaixo dos teus lençóis.Porque lá,Há um mundo bem diferente daquele que eu conheço.Onde tudo passa a fazer sentido,E nada... mas mesmo nada...Me perturba!Leva-me!Por favor, leva-me para longe...
Rio-me,Choro,Fico um pouco histérica,Acalmo-me,Esqueço tudo o que alguma vez aconteceu,Penso em tudo aquilo que já aconteceu vezes sem conta.Observo-me ao espelho,Aprecio-me ao espelho...Apetece-me partir o espelho!Dispo a roupa e começo a dançar,Dispo a minha roupa e atiro-a para o chão.Ponho tudo de pernas para o ar.Deixo tudo onde está para que outra pessoa arrume,Apercebo-me que afinal de contas sou sempre eu que arrumo tudo.Canto muito bem,Canto muito mal.Como coisas que não devia comer.Dobro-me e observo os meus músculos,Deixo de me dobrar e reparo nas minha cicatrizes.Gostaria de saber como ficaria se fosse morena,Se fosse ruiva,Gostaria de saber como ficaria se fosse velha!Pinto me como nunca faria se fosse para a rua,Experimento roupas que nunca vestiria em público!Olho para os meus seios,Imagino-os maiores,Mais pequenos,Mais arredondados,Mais firmes,Menos firmes,Mais bonitos,Mais feios,Aceito os meus seios tal como são!Escondo-me!Respondo ás pessoas e ganho.Tenho fantasias em que a estrela sou eu,Grito comigo própria, perdoo-me,Ensaio aquilo que irei dizer amanhã,Aumento o volume do rádio para não ouvir nada,Abro a torneira da água para não ouvir o rádio,Perco-me, Imagino-me numa ilha deserta,Mas com outras pessoas muito atraentes,Rezo, procuro os meus defeitos,Aceito esses defeitos, e procuro outros!Faço caretas ao espelho,Vejo como é que fico com ar de sedutora,De amuada, de zangada, De surpreendida, de chocada,De impressionada, absorta.Tiro os anéis, olho para mim nua.Olho para mim e gosto do que vejo!